terça-feira, 13 de junho de 2006

OS ÍNDIOS

"Aldeia da Meia-Praia], ali mesmo ao pé de Lagos] Vou fazer-te uma cantiga] da milhor que sei e faço."
Começa assim a canção do Zeca Afonso, os "Índios da Meia-Praia", que acompanhou o filme-documentário de António da Cunha Telles sobre os cuícos da Meia-Praia, sobre os homens e as mulheres que após a manhã libertadora de Abril de 74 se uniram, visando transformar as suas miseráveis palhotas em habitação de gente. Grande lição deram aos lacobrigenses nessa altura, esses "índios" que de "índios" não tinham nada. De união, de dignidade, de esforço, na construção de habitações dignas desse nome.
Três décadas passaram e os dois bairros SAAL modificaram-se por força do crescimento da comunidade. E também do alheamento a que entretanto foram votados pelo Poder Político. Esse processo, essa transformação, ficou registada na película de Pedro Sena Nunes, que a exibiu há bem pouco tempo no Centro Cultural de Lagos.
A "lição" dos "índios" foi das primeiras que tivemos a nível político. A de que ninguém deveria viver em infames barracas. A de que todos os homens e mulheres nascem livres e iguais, e que todos merecem um tecto digno desse nome. E também a de que "controleiros" partidários não são necessariamente "amigos do Povo".
Hoje, não sabemos no que se converterá a Meia Praia nos próximos anos, zona altamente cobiçada pelos senhores de grandes interesses económicos e de grande Poder. Mas, em nome da dignidade dos Índios da Meia Praia que não o são, gostávamos de o saber. Sinceramente.
"Subo ao alto da duna. Olho, a nascente, a fila de toldos da Meia Praia, junto do Forte. Para o outro lado, ao fundo, o casario de Lagos. Lembro-me do largo de Monte Gordo, com o rapazinho cuíco defendendo-se dos rapazes que tentavam cercá-lo. Recordo-me do relato da vida dos cuícos. Expulsos do lugar aonde moravam, do pedaço de areia onde varavam os barcos, do mar onde procuravam o sustento. Porque alguém, que era rico, quis ser ainda mais rico comprando, com o terreno e a praia, os grandes lucros do turismo. Lembro os cuícos na travessia de quase todo o Algarve. Presos, aqui e além, desde Monte Gordo até Lagos, postos fora das cidades, das vilas, das aldeias, afastados de toda a parte, porque procuravam o trabalho, a casa e a mesa. Sei agora que o conseguiram. Que construíram cabanas, fizeram uma aldeia, têm uma loja, onde compram o que podem. E deste areal, que conquistaram, lançam-se ao mar, a sua grande lavoura, onde charrruam o pão com as quilhas dos barcos." - Manuel da Fonseca - Lagos, a Cidade, as Praias, os Cuícos.

7 comentários:

ND disse...

No domingo de manhã encontrei uma sexagenária alemã na meia praia que conhece e vem para Lagos faz uns vinte anos, e me disse, em jeito de conclusão após alguns minutos de conversa, que sempre pensou que as gentes de Lagos fossem mais inteligentes que as de Albufeira. Já não pensa assim.

Anónimo disse...

Quando venho a este blog fico sempre espantado.Aqui parece ser o ponto de encontro da inteligenzia de Lagos.Mas além de darem bocas que contributo dão à cidade?

Anónimo disse...

O contributo deve ser o pôr o anti-bocas a reflecrir sobre a cidade que tem e que quer. É só um palpite.

Anónimo disse...

Caro O Mendes,prefiro reflectir em vez de reflecrir como por si sugerido.

Anónimo disse...

Tanto quanto posso reflectir, aquele espaço "hindú" vai ficar cercado por coisas de "alto nível". Mais tarde, entre aquisições, expropriações e apropriações, aquilo ficará "apresentável".

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Ó anti-bocas, verificaste se tinhas o cérebro ligado quando usaste o teclado? Xôôô!!! Basa daqui que isto é uma festa privada.

Anónimo disse...

Anti-Bocas...pelo menos dão o mesmo contributo que tu, isto é, se por acaso tu tens a tua situação com o fisco regularizada.

Anónimo disse...

Na verdade tudo o que for diferente de proíbir todo o tipo de construção a sul da estrada e tirar a linha de caminho de ferro e substitui-la por um amplo passeio publico desde a nossa avenida até à ria d'Alvor,será uma má solução.