DA VERGONHA E DO DESPUDOR

[Nas eleições para a presidência da República que se realizam no próximo domingo, Aníbal Cavaco Silva aparece em vários estudos de opinião como o candidato melhor posicionado para vir a ocupar o Palácio de Belém. Nesta campanha eleitoral, a demagogia, a falta de vergonha e o despudor dos seus apoiantes já atingiram os limites do impensável.]

Ramalho Eanes, que foi presidente da República (um homem do tristemente célebre 25 de Novembro de 1975), e que actualmente integra a Comissão de Honra de Cavaco Silva no presente acto eleitoral, afirmou recentemente que aquele que apoia é “o candidato do 25 de Abril”.
O despudor e a falta de vergonha desta afirmação consentida e admitida publicamente por Cavaco é tal que, para ser verdade, o candidato apoiado pelas forças mais retrógradas da nossa sociedade teria que ter feito alguma coisa antes, durante ou depois do 25 de Abril em Portugal, o que NUNCA, mas NUNCA, aconteceu.
O único acto de que nos recordamos deste candidato relacionado com esta matéria teve lugar quando era Primeiro-ministro, com a recusa do reconhecimento a Fernando Salgueiro Maia (Capitão de Abril), mas ao agraciamento de miseráveis polícias do regime fascista de Salazar (os ignóbeis PIDES).
Sejamos claros: o 25 de Abril não é património de alguns, apenas. Os direitos, os deveres, as liberdades e as garantias são de e são para todos os cidadãos nacionais. De Cavaco, apenas conhecemos a sua intervenção no que se refere à destruição das conquistas de Abril. O seu passado prova-o. Independentemente das asneiras e miseráveis mentiras que dizem os seus apoiantes. Não será por as repetirem até à exaustação, que elas se converterão em verdades, sabemos.
Num país que não fosse o do analfabetismo e o da iliteracia (como o nosso é), uma afirmação tão descabida, deslocada e despudorada, resolveria as eleições de uma vez. Mas... Estamos em Portugal, não é?

Pelo despudor, ignomínia, inverdade e baixeza das afirmações dos seus apoiantes, bem como pelo seu silêncio (sinal de consentimento quanto às afirmações por eles proferidas), Cavaco Silva não merece vir a ser Presidente da República portuguesa. O nosso país. A nossa Pátria.