[Nas eleições para a presidência da República que se realizam no próximo domingo, Aníbal Cavaco Silva aparece em vários estudos de opinião como o candidato melhor posicionado para vir a ocupar o Palácio de Belém. A estabilidade no relacionamento entre as instituições é necessária? Será essa estabilidade um bem para Portugal? Estará ela ao alcance de quem no passado já demonstrou preferir a via da “bordoada”?]
“O professor Cavaco é o candidato do sistema, desta terceira República, e eu não acredito que ele propusesse uma alteração da Constituição como eu defendo, através, se necessário, de um referendo. Não é o meu candidato”. Não, não... Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, esta frase não foi proferida por um algum qualquer perigoso anti-cavaquista... Foi Alberto João Jardim, o mesmo Alberto João, presidente do Governo Regional da Madeira (PPD/PSD), que há dias recebeu o Sr. Silva de braços abertos no seu feudo, mas que não há muito tempo atrás berrava pela sua expulsão do PPD/PSD, quem fez este comentário em 3 de Junho de 2003, em Braga.
Entretanto, em final de Maio de 2005, Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças de Cavaco, apontou o professor de Boliqueime como tendo sido “o principal responsável pela criação do ‘monstro’ que é hoje o estado das contas públicas do País. A origem do problema, segundo o ex-ministro das Finanças do Sr. Silva, esteve nos “trabalhos preparatórios do novo Sistema Retributivo da Função Pública que correram sob a responsabilidade directa de Cavaco Silva”, em 1989. “Na base da polémica estão as bases de um sistema da Administração Pública que, segundo Cadilhe, elevou o País ao terceiro lugar entre os mais caros da Europa nos gastos com a Função Pública" (jornal Correio da Manhã, 2005-05-29). E os funcionários públicos, hoje, estão em luta...
Já durante a campanha eleitoral, em entrevista a um jornal, o candidato Cavaco sugeriu que o Governo deveria criar mais uma Secretaria de Estado, péssimo indicador quanto à sua vontade de provocar a destabilização em esferas que não são as da competência do Presidente da República.
Mais recentemente, em entrevista à SIC Notícias (ver LUSA 11-01-2006, notícia SIR-7633998), o ex-líder do PPD/PSD Pedro Santana Lopes, “afirmou que o cenário de ‘sarilho institucional’ entre Cavaco Silva como Presidente e o executivo do socialista José Sócrates é possível dado o perfil de ‘Presidente activo pelo ex-primeiro-ministro social-democrata”. Santana acrescentou à televisão de Balsemão (ex dirigente do PPD/PSD) que “face ao ‘capital de esperança’ que conquistou nesta campanha, o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP terá que seguir um de dois caminhos: ‘ou Cavaco Silva consegue fazer algo para que a situação [do país] não continue tão má, e então vamos ter sarilho institucional, ou então não o consegue e teremos mais problemas e conflitos sociais”.
Pelas palavras dos seus ex, actuais, (quem sabe o que são?) companheiros de partido, já que ele pode vir a ser um factor de instabilidade na sociedade portuguesa, Cavaco Silva não merece exercer o mais alto magistério da Nação.
4 comentários:
Quer queiramos ou não estamos no meio de uma revolução industrial,que como em todas as outras sempre houve quem quisesse ficar com os beneficios todos.Só que depois,outras classes vêem reclamar o seu quinhão,sempre de uma forma violenta.Já só falta a ultima fase para todos acharmos que este foi mais um avanço no desenvolvimento.
Quanto mais cedo os governos se aperceberem disto menos violencia haverá.
ET
Mas será que alguém ainda tem dúvida que o Cavaco é o principal culpado da situação do país estar como está?
Vamos mas é dar-lhe uma lição.
O texto do post é simplérrimo, num arranjo de citações contraditórias.
Os comentários, deste e de outros posts sobre o tema, também não lhe ficam atrás.
Dez anos passados sobre o "cavaquismo" é tempo suficiente para se terem coado as águas da propaganda, da boa e da má, da que diz ter sido Cavaco o melhor primeiro-ministro depois do 25 de Abril, e da que diz ter sido um monstro, culpado de todas as desgraças que se abatem sobre nós.
E é tempo, igualmente, para se ver que a primeira das propagandas está mais próxima da realidade dos factos do que a segunda.
Quem tal afirma não nutre especial simpatia pelo Cavaco, mas não é cego nem insensível à marca, francamente positiva, dixada no país pelos dez anos do consulado "cavaquista". Não foi um resultado muito brilhante, mas foi o possível, perante o país (as elites, o patronato e os trabalhadores) que temos. Por muito mais dinheiro que tivesse jorrado da teta comunitária, os resultados não seriam muito diferentes; outro que fosse o protagonista do executivo, os resultados seriam, muito provavelmente, piores, como, aliás, comprovou o consulado guterrista e os equívocos que se lhe seguiram.
Perante mais este equívoco de primeiro-ministro que o maralhal escolheu como mal menor nas últimas eleições, um pouco de controvérsia, se a houver, com Cavaco como Presidente, não trará mal ao Mundo (e talvez antes pelo contrário). Mal ao Mundo poderia trazer, certamente, a eleição de qualquer dos outros candidatos, por razões várias, ainda que se trate duma eleição presidencial e os poderes presidenciais sejam pouco mais do que ornamentais.
Quem assim fala, contudo, não vai votar em Cavaco, nem em qualquer dos outros. Não se irá abster, mas infelizmente o seu candidato (o de branco) não conta para o somatório dos votos (mais uma das muitas espertezas saloias dos constituintes que tivémos e vamos tendo...).
É tempo, porém, de deixarmos de acreditar em salvadores da Pátria e de desconfiarmos dos discursos que pintam os adversários como encarnações do Diabo. Ora, o Cavaco não é o salvador da Pátria, mas também não é o Diabo!
E também já é tempo de deixarmos de sacudir a àgua do capote, e de deixarmos de atribuir a outros as culpas dos nossos males. A culpa do estado a que as coisas chegaram não é deste nem daquele, mas de todos nós, os portugueses. Porque desde há muito tempo a esta parte parece não termos ponta por onde se lhe pegar... Enfim, não percamos a esperança, porque não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe!
IDAS.
faço minhas (todas) as palavras do IDAS
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