quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

159 ANOS DEPOIS

Em 1846, Almeida Garrett publicou a obra “Viagens na minha Terra”.
Desta publicação literária, retirámos o seguinte trecho:
“Não, senhor: o frade, que é patriota e liberal na Irlanda, na Polónia, no Brasil, podia e devia sê-lo entre nós; e nós ficávamos muito melhor do que estamos com meia dúzia de clérigos de requiem para nos dizer missa; e com duas grosas de barões, não para a tal oposição salutar, mas para exercer toda a influência moral e intelectual da sociedade – porque não há de outra cá.
E senão digam-me: onde estão as universidades, e o que faz essa que há senão dar o seu grauzito de bacharel em leis e em medicina? O que escreve ela, o que discute, que princípios tem, que doutrinas professa, quem sabe ou ouve dela senão algum eco tímido e acanhado do que noutra parte se faz ou diz?
Onde estão as academias?
Que palavra poderosa retine nos púlpitos?
Onde está a força da tribuna?
Que poeta canta tão alto que o ouçam as pedras brutas e os robres duros desta selva materialista a que os utilitários nos reduziram?
Se exceptuarmos o débil clamor da imprensa liberal já meio esganada da polícia, não se ouve no vasto silêncio deste ermo senão a voz dos barões gritando contos de réis.
Dez contos de réis por um eleitor!
Mais duzentos contos pelo tabaco!
Três mil contos para a conversão de um anfiguri!
Cinco mil contos para as estradas dos aeronautas!”
Há 159 anos atrás, Almeida Garrett escrevia assim sobre o nosso país e sobre a nossa sociedade. Hoje, analisando o que nos rodeia, observando alguma da mediocridade que anónima e cobardemente se tenta pôr em “bicos de pés” em espaços que deveriam ser os de liberdade e de cidadania, não podemos deixar de citar Garrett.
A carapuça, enfia-a quem quiser. Nem mais!

1 comentário:

Anónimo disse...

O problema é que a mediocridade há muito que deixou de ser anónima,
tem rosto e confunde-se com o sucesso.
Estamos muito pior que há 160 anos atrás,a distancia em relação ao ILUMINISMO é muito maior pois a classe dirigente não passa de DIRIGIDOS por aqueles a quem o lucro fácil dita a lei.