terça-feira, 10 de janeiro de 2006

O POLVO (II)

[No momento em que nos encontramos em campanha eleitoral para as eleições à presidência da República, que terão lugar a 22 de Janeiro próximo, gostaríamos de deixar o nosso contributo a quem nos lê, no que se refere a dois dos candidatos do “sistema”, responsáveis em nosso entender pelo estado calamitoso a que o nosso país chegou, mas que mesmo assim se apresentam a votos.
Ao longo desta semana, recorreremos a textos da autoria de Joaquim Vieira, publicados na entretanto extinta revista Grande Reportagem, relativos a Mário Soares. Na semana seguinte, contamos recordar algumas das “façanhas” promovidas pelo outro.]

A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente (ver esta coluna na anterior GR) foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia, seu ex‑ministro, e o próprio filho, João. A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil acções da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente mas de que fizera o outro fiel depositário na sua permanência em Belém ‑ relata Mateus em Contos Proibidos. Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa‑de‑ferro no grupo empresarial. Diz Mateus que o Presidente queria investir nos media: daí o convite inicial para Silvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o Governo) visitar Belém. Acordou‑se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento. Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a sua associação a «amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares», com vista a «garantir o controlo de interesses nos media favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua reeleição». Interpôs‑se porém outro magnata, Robert Maxwell, arqui‑rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais. Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu «mensalão». Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. Mas a ética política é um valor permanente, e as suas violações não prescrevem. Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura de Soares. O então Presidente ficaria aliás nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais ‑ episódio a merecer análise própria.
“Os Passos em Volta”- Joaquim Vieira – Grande Reportagem 244 – 10 de Setembro de 2005

1 comentário:

Anónimo disse...

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