TREMORES

“E só o que posso dizer n’esta minha é que no primeiro de novembro do anno próximo passado, pelas nove horas e meia da manhã, principiou o terramoto, que duraria quatro ou cinco minutos, pouco mais ou menos, e foi tão vigoroso n’esta cidade que totalmente a arrazou, menos algumas casas terreas que ficaram junto das muralhas da parte do campo, donde não fez tanta impressão. Os templos todos se arruinaram, assim dentro dos muros como de fóra, de sorte que ficaram incapazes de se officiar n’elles, e a igreja de Santa Maria totalmente veio abaixo, sem lhe ficar mais que alguma parede, e a minha ficou toda aberta com fendas (...)”.
No dia 1 de Novembro de 1755, em Lagos, com o violento tremor de terra e maremoto que se lhe seguiu, foi assim. Hoje, os meios técnicos são completamente diferentes. Hoje, as casas são bem construídas, com estruturas anti-sísmicas, inclusivamente. Se um cataclismo daquela dimensão tivesse hoje lugar, certamente que a cidade de Lagos não seria arrasada como aconteceu nesse longínquo ano de 1755.
Aliás, basta olhar com atenção para o centro histórico de Lagos, com as suas dezenas de casas devolutas e a ameaçarem ruína eminente para se compreender que não. E basta ver as rachaduras nos rebocos de prédios novos fora de muralhas para se perceber que hoje a construção é muito mais sólida que há 250 anos atrás. Não é?Ou então, por outro lado, já chega de ironia e já é tempo de se falar a sério e de se abordar este assunto com seriedade. Se hoje houvesse um sismo com magnitude semelhante ao de 1755, seguido de tsunami, que aconteceria à nossa cidade? Será que alguém pode responder com honestidade?

Ou haverá alguém com curiosidade suficiente para enfrentar as consequências?