quarta-feira, 2 de novembro de 2005

RIFÃO QUOTIDIANO

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece"
[Mário Henrique Leiria]

É óbvio que qualquer semelhança entre as nêsperas lacobrigenses e a realidade não é mais que pura coincidência...

6 comentários:

Anónimo disse...

Este comentário está deslocado aqui, mas antes isso do que deixar passar em claro o merecido elogio devido ao autor do post "Abréu, a Besta", publicado há tempos atrás e que só agora vi (porque só hoje cheguei a leitor do blog).

Antes de mais, o título desse post peca por defeito; o título mais adequado seria: Abréu, a grandessíssima Besta!

Também eu fui aluno da Besta, na frequência da 2.ª classe, corria o ano de 1957. Tinha então oito anos. Por mera casualidade, fui colega de turma do Gabriel Mesquita (que, sendo um pouco mais velho, teria na altura uns onze ou doze anos, não recordo com precisão, mas não os oito a que se refere um comentador desse post, porque chumbara já na 1.ª e na 2.ª classes). Muito provavelmente, também eu fui espectador, estarrecido de medo, da cena da pancadaria dada pela Besta ao Gabriel Mesquita, tão bem descrita pelo comentador citado. Mas, as cenas de pancadaria a sério repetiam-se, e se não fui espectador dessa fui-o de muitas outras, em tudo semelhantes, com esse mesmo ou com outros bombos da festa.

Naquele tempo, era comum o uso do castigo corporal, incluindo o seu uso como instrumento pedagógico (tendo como meios o ponteiro, a régua e a mão-leve, e, para humilhação, a carapuça ou orelhas de burro), como se a porrada contribuísse para que o pessoal aprendesse mais ou melhor. A generalidade dos professores fazia uso do castigo corporal, e a falta de um simples acento ortográfico dava direito a palmatoada.

O Abréu não era único no uso de tal instrumento pedagógico, mas era, sem dúvida, o mais selvagem. Talvez pela impunidade de que gozava (era então director da escola masculina do Bairro) ou por mero carácter, porque nunca lhe conheci um sorriso, nos sete ou oito anos seguintes em que o fui vendo por aí. Embora não tenha sido objecto de tal tratamento (que no meu caso se restringiu a uma ou outra palmatoada ou a um ou outro berro), a única coisa que bem recordo dele é a selvajaria e o medo que incutia, nada que tivesse aprendido.

A moçada era "fresca", ligava pouco à escola e aos livros, esquecia-se dos "deveres" e frequentemente dormitava nas aulas (não porque fosse ao berbigão, de noite, mas porque se perdia a ver televisão, a grande novidade na altura, ou a brincar na rua até noite escura). Graçavam a pobreza, as más condições de salubridade das habitações, os maus hábitos de higiene, o alcoolismo, a escassa escolaridade dos pais, e a porrada a torto e a direito era o pão nosso de cada dia, mesmo como instrumento educativo na família.

O contexto da época, digamos, era propício ao recurso à pancadaria, e muitos pais recomendavam aos professores o seu uso. Ouvi várias dessas recomendações, incluindo da parte de Américo Mesquita (pai do Gabriel) para o seu vizinho Abreu. Mas um professor que se prezasse, mesmo nesse contexto, não poderia descer à selvajaria do Abréu. Por isso, pelo que de facto foi, ainda hoje bem presente na memória dos que tiveram o azar de ter sido seus alunos, o Abréu não pode, de maneira alguma, ser recordado como professor ou pedagogo, mas sim como "Abréu, a grandessíssima Besta"!

Anónimo disse...

E por ironia do destino, foi quem mais o criticava enquanto colega de profissão (sim esse mesmo, o Prof Cabrita), que enquanto presidente da assembleia municipal, propôs atribuir à então escola do Bairro Operário o nome da grandessissima besta, em sua homenagem.
Hoje quando lá passamos ainda lá vemos escarrapachado na parede o seu nome, como um estigma, como se não nos quisessem deixar esquecer que fomos testemunhas da brutalidade e da pedagogia do estado novo.

Anónimo disse...

Tristes novas me dás, porque nem sonhava que a escola do Bairro tivesse como actual patrono um tal sujeito, e nunca me passaria pela cabeça que a ideia tivesse partido de um seu colega de profissão. A vida tem destas coisas.

Mas se para patronos de escolas se escolhem por vezes nomes de vária gente, porque escasseiam pedagogos a quem lembrar ou a terra é parca de outros conterrâneos de valor, quando se trata de professores deveria ter-se um pouco mais de cuidado.

Porque este caso do Abréu não foi apenas um caso igual a tantos outros dos tempos negros do fascismo. Não, este excedia o autoritarismo e as patacoadas pedagógicas dominantes ao tempo. Tenho sérias dúvidas de que não fosse caso patológico, tal o sadismo e a violência postos em prática durante anos a fio.

E se tais comportamentos não fizeram mossa em muita gente, desconfio que a muitos outros não deixaram de marcar indelevelmente e irremediavelmente, como referia o autor do post em relação a um seu antigo colega de turma que encontrara mendigando.

Por isso, propostas desse teor deveriam ser amplamente divulgadas e postas a consulta pública, antes de serem aprovadas. Não quer dizer que o pessoal ligasse muita importância ao assunto ou se dispusesse a ir às sessões da Assembleia Municipal dizer de sua justiça, mas seria o mínimo exigível.

Quem sabe se o actual Presidente da Câmara, que foi aluno da escola do Bairro e, talvez, da grandessíssima besta do Abréu, não se dará ao incómodo de retirar à escola o nome de tão desonroso patrono.

Caberia a nós, antigos alunos da grandessíssima besta, juntarmo-nos e fazermos ver quão afrontoso para as nossas memórias é a atribuição de tão imerecida homenagem à grandessíssima besta. Provavelmente, é tarde, mas mais vale tarde do que nunca.

Lacobrigense daí saído há muito e sem vontade de voltar.

5 Pontas disse...

Seria interessante que a Escola mudasse de nome, não era?
Seria interessante que a verdade histórica vingasse sobre o sadismo, sobre a prepotência, sobre o fascismo, não era?
Depende de nós? Depende de nós. Pensemos nisso? Conseguiremos agir?
Contactem-nos por email. cinco_pontas5@yahoo.com.

Vamos tentar?

Anónimo disse...

Apoio.

Lacobrigense daí saído há muito e sem vontade de voltar.

Anónimo disse...

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