“Vai para dois anos que partiste.
Apesar de tudo se ter passado rapidamente, cedo te apercebeste que a tua vida ia acabar. Utilizei termos científicos, lacónicos, para te noticiar o destino e especificar a etiologia do teu caso. Dispensaste outras palavras, por inúteis, lendo nos meus silêncios, e nem um protesto te ouvi. Assististe à minha incapacidade para modificar a história natural da tua doença, e apenas pude aliviar o teu sofrimento. Fingiste para poupar os outros e, no fim, desejaste partir”.
Comprei o Público no dia em que se anunciava esta morte. Li-o de ponta a ponta, antes de mais um exame merdoso. Li-o de ponta a ponta, mas não li a notícia desta morte. No sábado seguinte, quando me preparava para deitar o jornal no lixo, constatei que a única notícia que me tinha escapado era a desta morte. Então chorei, porque percebi que não teria mais a companhia deste amigo, que me mostrou de que cores se compõe a paleta da vida. Esse jornal, guardo-o até hoje. E muitas outras coisas, de quem muito me ensinou e revelou.
Que nos desculpem, os que desejavam mais. Mas hoje só sobra o dilacerante e ruidoso silêncio. Death came in silence.
“No fim, à volta de uma mesa, vamos abrir um Barca Velha, partir um queijo de Serpa, beber e comer juntos. Talvez choremos ou talvez não falemos sequer de ti.
Até sempre”.
Fotografia e texto sublinhado: Luís Campos (Carta a um amigo, 1992).
Apesar de tudo se ter passado rapidamente, cedo te apercebeste que a tua vida ia acabar. Utilizei termos científicos, lacónicos, para te noticiar o destino e especificar a etiologia do teu caso. Dispensaste outras palavras, por inúteis, lendo nos meus silêncios, e nem um protesto te ouvi. Assististe à minha incapacidade para modificar a história natural da tua doença, e apenas pude aliviar o teu sofrimento. Fingiste para poupar os outros e, no fim, desejaste partir”.
Comprei o Público no dia em que se anunciava esta morte. Li-o de ponta a ponta, antes de mais um exame merdoso. Li-o de ponta a ponta, mas não li a notícia desta morte. No sábado seguinte, quando me preparava para deitar o jornal no lixo, constatei que a única notícia que me tinha escapado era a desta morte. Então chorei, porque percebi que não teria mais a companhia deste amigo, que me mostrou de que cores se compõe a paleta da vida. Esse jornal, guardo-o até hoje. E muitas outras coisas, de quem muito me ensinou e revelou.
Que nos desculpem, os que desejavam mais. Mas hoje só sobra o dilacerante e ruidoso silêncio. Death came in silence.
“No fim, à volta de uma mesa, vamos abrir um Barca Velha, partir um queijo de Serpa, beber e comer juntos. Talvez choremos ou talvez não falemos sequer de ti.
Até sempre”.
Fotografia e texto sublinhado: Luís Campos (Carta a um amigo, 1992).
Está patente no Centro Cultural de Lagos uma exposição com trabalhos de Joaquim Lopes de Mira Bravo (07/12/1935 – 18/06/1990).
4 comentários:
Porra pá, doi que se farta. Mais ainda quando o olhamos naqueles olhos. Sempre assim. Porra pá, tira-me esse posta daí. Porra pá...
Um abraço Joaquim..onde quer que estejas..pelo menos estás melhor que nós, com uma visão mais exoterica da questão...tal como tu gostavas.
"melhor que nós, com uma visão mais exotérica da questão"
Melhor que nós?Porra que o homem morreu e está sete palmos debaixo de terra.Estaria melhor se por aqui andasse.Isso de filosofar-mos e romantizar-mos a morte parece-me uma forma um pouco egoista de abordar-mos a questão.Morreu,terminou,acabou.
Poderemos quanto muito mante-lo "vivo" no nosso pensamento,nas nossas lembranças com tudo o que nos deixou. J.B.
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