OS INTOCÁVEIS (II)

No Portugal feudal do século XXI a que nos reportámos ontem, não são só os militares a usufruírem de privilégios únicos. Também a Igreja Católica Apostólica de Roma e os seus membros deles são usufrutuários.
Da Igreja Católica já muito se disse, embora as palavras mais sábias e verdadeiras foram as que lemos no Decameron, de Giovanni Boccaccio, obra escrita no século XIV: “– Que penso deles? Que todos, sem excepção, devem ser punidos por Deus. Se falo dessa forma é porque não me pareceu ver em clérigo algum qualquer santidade, devoção, caridade, dignidade – em resumo: nada de bom! Luxúria, avareza, gula e coisas semelhantes ou piores ainda, se é que pode haver defeitos piores num ser humano, tudo isso parece ser em Roma tão apreciado, que cheguei a julgar ter caído em alguma oficina de artes diabólicas, em vez de estar na casa de Deus!”
Na Igreja de São Sebastião, de Lagos, os representantes desta instituição do vício de que falava Boccaccio chamam todos os domingos de manhã as “ovelhas tresmalhadas do seu rebanho” à missa, com um ruidoso e insuportável chamamento de sinos, um cagaçal dos diabos, numa total desconsideração pelo descanso dos outros. Mas, enfim... Como é a Igreja que chama... Quem é que os quer enfrentar ou afrontar? Dizer que está mal a sua atitude? Dizer-lhes que devem respeitar os outros, os que não são “ovelhas”?

Só apetece dizer aos senhores padres que gostam de dar ao “badalo” que o deveriam fazer ou no recato do seu lar, ou então, e de preferência, noutra freguesia. A malta agradecia, sinceramente!