TOMADA DE POSSE (FICÇÃO)

A sala estava linda, refinadamente arranjada, com a bandeira nacional, a da União Europeia e a da cidade, em grande destaque.
O chão, forrado com uma alcatifa espessa, de um vermelho vivaz, apresentava-se imaculadamente limpo.
Os arranjos de flores, de onde sobressaíam belos antúrios, engalanavam airosamente o recinto, impregnando o espaço de um cheiro doce, mas simultaneamente suave e agradável.
Sobre a mesa de honra, bem no seu centro, encontrava-se o livro de actas. “Eu, abaixo-assinado, juro por minha honra, cumprir com lealdade o cargo que me foi confiado”.
Os recém-eleitos, prestes a tomar posse, pouco à vontade nos seus melhores fatos e gravatas tirados propositadamente para esta ocasião do fundo do roupeiro e a tresandarem a naftalina, perfilavam-se visivelmente nervosos, mas solidariamente juntos no estrado, de frente para o público que assistia a tão solene e significativa cerimónia.
Foi nesse preciso momento que o pelotão comandado pelo Cabo Etelvino entrou na sala, o grupo em fila indiana, na marcha dos militares. Passados poucos segundos, e já virados de frente para os atónitos que iriam tomar posse, o pelotão disparou uma rajada, sincronizada. Bela. Eficaz. Aplaudida freneticamente, de pé, pela numerosa assistência.
Que querem? A democracia também tem os seus perigos, ou não o sabiam?

[Por pura coincidência, acabámos agora mesmo de saber que terá lugar amanhã, pelas 15 horas, no Centro Cultural de Lagos, a tomada de posse da Câmara e da Assembleia Municipal de Lagos.]