Dava aulas, mas não era professor.
Dava aulas, mas não ensinava.
A sua autoridade, demonstrava-a pela pancada que distribuía. A torto e a direito. A fazer sangue nos miúdos de 8 anos, meus colegas de turma, e eu recordo.
Abreu dava aulas, mas acima de tudo dava porrada, com um raro prazer, com um sadismo que nunca iremos esquecer. As suas vítimas preferidas eram sempre, todos os dias, as mesmas. Eram sempre os mesmos que apanhavam até sangrarem. Os que ele mandava sentar-se no fundo da sala. Os que se deixavam dormir, porque tinham estado toda a noite na faina do peixe, do berbigão e da condelipa. Na altura, eu ainda não sabia, mas eram os que não tinham casa, os que não tinham nada. Os que viviam em barracas, na Meia-Praia, ou no Bairro Operário. Só me apercebi desse facto no dia 26 de Abril de 1974, quando o meu pai me levou as visitar as suas “palhotas”, as dos índios da Meia-Praia. Nesse dia, nesse exacto momento, compreendi porque razão eram sempre os mesmos a apanhar “porrada” de morte. E nesse dia, também, elegi a minha “bandeira”, vermelha, a que tem cinco pontas, estrela que simboliza o internacionalismo, mas também a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Razão e o Coração.
Recordei Abreu, a Besta, quando vi num destes dias um dos seus antigos alunos, meu colega, que ele tinha mais prazer em espancar, a pedir esmola na Avenida, de boné na mão, barba por fazer, dependente. Ele era e é o Chico da Meia-Praia. E ao passar junto a ele, que não me reconheceu, interroguei-me se a vida deste ser humano, rapaz da minha idade, não poderia ter tido um rumo e uma vida diferente se Abreu, a Besta, não se tivesse cruzado no seu e no nosso caminho. No de tantos rapazes pobres.
É por esta razão, e por outras como esta, que sei que ainda nos falta cumprir Abril. Por ele vou continuar a lutar. Por ele vamos continuar a lutar. Até que Abril se cumpra.
Dava aulas, mas não ensinava.
A sua autoridade, demonstrava-a pela pancada que distribuía. A torto e a direito. A fazer sangue nos miúdos de 8 anos, meus colegas de turma, e eu recordo.
Abreu dava aulas, mas acima de tudo dava porrada, com um raro prazer, com um sadismo que nunca iremos esquecer. As suas vítimas preferidas eram sempre, todos os dias, as mesmas. Eram sempre os mesmos que apanhavam até sangrarem. Os que ele mandava sentar-se no fundo da sala. Os que se deixavam dormir, porque tinham estado toda a noite na faina do peixe, do berbigão e da condelipa. Na altura, eu ainda não sabia, mas eram os que não tinham casa, os que não tinham nada. Os que viviam em barracas, na Meia-Praia, ou no Bairro Operário. Só me apercebi desse facto no dia 26 de Abril de 1974, quando o meu pai me levou as visitar as suas “palhotas”, as dos índios da Meia-Praia. Nesse dia, nesse exacto momento, compreendi porque razão eram sempre os mesmos a apanhar “porrada” de morte. E nesse dia, também, elegi a minha “bandeira”, vermelha, a que tem cinco pontas, estrela que simboliza o internacionalismo, mas também a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Razão e o Coração.
Recordei Abreu, a Besta, quando vi num destes dias um dos seus antigos alunos, meu colega, que ele tinha mais prazer em espancar, a pedir esmola na Avenida, de boné na mão, barba por fazer, dependente. Ele era e é o Chico da Meia-Praia. E ao passar junto a ele, que não me reconheceu, interroguei-me se a vida deste ser humano, rapaz da minha idade, não poderia ter tido um rumo e uma vida diferente se Abreu, a Besta, não se tivesse cruzado no seu e no nosso caminho. No de tantos rapazes pobres.
É por esta razão, e por outras como esta, que sei que ainda nos falta cumprir Abril. Por ele vou continuar a lutar. Por ele vamos continuar a lutar. Até que Abril se cumpra.
“A paz, o pão, habitação, saúde, educação... Só há liberdade a sério quando houver...”
24 comentários:
Que professor teve ele que você não teve?, que condições lhe deram que a si não deram?
Ah bom!!!, que amor teve você que ele não teve, ah bom, quer dizer... O professor Abreu era a besta, mas não tinha capacidade de fazer bestas.!!!
Bom mas estamos de acordo que ainda falta cumprir Abril, falta...dizemos nós...mas e será que acreditamos na capacidade para tamanha proeza... Claro, eu sei que está, também você, com um sorriso semelhante ao meu. ADEUS que VIVA Abril, mas que seja um dia qualquer.
Lembro-me do Abreu mas nunca tive oportunidade de dobrá-lo. Era de ciências e eu era de letras e portanto nunca nos cruzámos para muita pena minha. No entanto tive oportunidade de exercer a minha arte com o Mendes, um rapaz de meia idade que dizia ser professor de história, No nosso primeiro ano em comum facultei-lhe uma depressão eficaz. No segundo ano ele evitava-me. No terceiro ano, quando o tornei o logotipo do jornal da escola deu-lhe uma coisinha muito má. Tinha uma frase genial: «Ó rapaz, vai ver a telenovela para aprenderes alguma coisa da vida». Ele falava a sério. Eu também. Ele deixou o ensino. Eu nunca lá estive. Paz à sua alma suína.
A todos os prófes do mundo, dedico este post: http://snipurl.com/hnpz
Devo confessar-te que já estava a ficar preocupado com o rumo que este blog estava a tomar. Parecia um pasquim digital do berloque de esquerda. Felizmente que regressaste à razão. Haja juízo. E Razão.
Ó Humor, tás-te a esquecer da Pantera cor-de-rosa?
Ao Guimas: o nosso amigo ou não foi aluno de Abreu, a Besta, ou já está esquecido. Então não se lembra que os "meninos da cidade" não afiambravam porrada? Que eram sempre os que tinham piolhos que apanhava pela medida grossa? Sabe quantas bestas o Abreu, a Besta, criou? Demais. E posso apresentar-lhe mais de uma dezena. Na boa! Saudações
Humor Negro: o rumo? O rumo? também nós, meu caro. Também nós. Vaí daí, já contratámos uma tribo de somalis, para resolver o assunto (private joke!). Aceita aquele abraço e fica a saber que cetas datas, tipo 11/9 nos provocam uma azia que nem te passa...
E eu digo.Ainda andam por ai muitos "aBREUS" armados em bestas.
Para eles,puta que os pariu.
Conde de Lippe,
Como esquecer a Pantera Cor de Rosa, quando ela foi o fetiche sexual de 300 crianças em idade praticamente pré-escolar?
Ah! Ainda existe, Humor Negro, de Lagos? Estou bem recordado de si... SEU MALVADO!
Não me recordo do dito senhor, mas imagino a criatura.
Aliás, entrei para a primária em 1977 (Escola do Bairro Operário), num período já pós-revolucionário. Todavia, lembro-me perfeitamente da apreensão da minha mãe em relação à reacção do professor, ou professora (no 1º dia não se sabia ainda quem seria), perante o meu "defeito": era (e sou) canhoto!
Felizmente apanhei uma professora que ignorou o facto e agiu com toda a naturalidade.
Imagino se caísse nas mãos de um indivíduo da "velha guarda" como o Abreu?
- Estaria amputado da mão esquerda?
- Seria toxicodependente?
- Seria um empresário de sucesso?
- Um construtor civil barrigudo e corrupto?
- Seria de direita e conservador (até tremo só de pensar)?
- Seria autarca?
- Seria pervertido? (mais ainda?...)
- Seria um serial killer (de caçadeira em punho)?
- Seria concorrente de um "reality show"?
- Seria mais ou menos idiota do que sou?
- Talvez não escrevesse tantas parvoíces...
Enfim...
É engraçado pensar como certas pessoas, com determinadas atitudes, podem mudar (ou condicionar) as nossas vidas.
É ainda mais engraçado pensar que tais "animais", como esse Abreu, ainda são muito conceituados e até recordados com uma certa saudade por muito boa gente que ainda diz:
- Naquele tempo é que era bom! Havia respeito! Hoje não aprendem nada, já nem sabem quem foram os reis de Portugal (como se fosse muito importante e decisivo para o nosso futuro profissional saber as dinastias e os reis). Hoje nem sabem escrever nem contar!...
Mas sabemos pensar e aprendemos a ter opiniões e a raciocinar, coisa que à geração dos nossos pais nunca foi ensinada (por muito mal que esteja o nosso ensino). - gosto de responder!
(já estou a imaginar respostas e este comentário)
"Esqueceste de dizer que batias p... com a mão direita, ó cretino!"
A Eu Mesmo: Como os outros (sempre os mesmos), talvez apanhasse a pancaria habitual e fosse todos os dias a sangrar para casa. Como muitos foram e eu vi. Já agora, seria interessante se ele lhe dissesse o que aconteceu a uma boa dezena deles, o que lhes aconteceu na vida, onde estão e o que fazem hoje.
Recordar Abreu, a Besta, para as pessoas conceituadas, só para desejar que não apareça mais nenhum animal como ele.
E o mais são opiniões... Saudações e obrigado pela sua contribuição.
O professor Abreu também nos dava alegrias, para além da pancada, e eu posso testemunhar, pela simples razão de ter andado com ele dois anos, lembro-me por exemplo quando o Abreu adoecia e por isso mesmo faltava á escola, que grande alegria era olhar o relógio e ao mesmo tempo na direcção das traseiras da cantina, de onde o Abreu saia todas as manhas, e ele não aparecia, era uma grande alegria que o Abreu nos dava, mas era muito raro.
Em certo ponto, até estou de acordo com o Guimas, o Abreu era aquilo que lhe deixavam ser, era uma sombra de um governo fascista, e não estava só, lembram-se do Santinho, que de Santo não tinha nada, e a Pombinha, e a velha da escola da praça d`armas, etc
Que descanse em paz no INVERNO ou no PARAÍSO, os anjos que decidam
Ao 5Pontas.
Bahhhh, a besta já residia naquele corpito, foi acordada. Quer fazer uma troca? Eu apresento-lhe alguns que também passaram por aquele asco de gente que apanharam porrada a sério e resistiram, com traumas, mas resistiram. A besta não tinha lá entrado. Amigo 5Pontas, Eu tive alguns abreus na minha vida, até andei À porrada com o Padre Jorge numa aula de religião e moral. Não encixo nessa.
Eu, quando ia para as "aulas" de Mocidade Portuguesa, de calções castanhos e camisa verde levava no bolso um livrito vermelho, lembra-se? Mas nem a farda me afectou, nem o livro vermelho. Por isso não entendo muito bem essa conversa. E alem disso, cheira-me a fraquezas mal disfarçadas
Ó Guimas não seja "reaças".
Mais uma vez parece que quer estar bem com deus e com o diabo.
AO JB
A singularidade da acusação inconsequente é um apanágio dos...
Ao Guimas: é a sua opinião, que respeitamos. Quanto às fraquezas, não sabemos do que fala. Conversámos entre nós sobre este assunto antes de postarmos e chegámos à conclusão que o tipo em causa nos fez mal. A nós e a outros. Ponto.
Ao Guimas:
A "singularidade",ui...ui...,o "apanágio",uau...uau...
Com esse palavreado erudito você baralha-me.
Tenha dó deste...
Ao JB
Não tenho dó, não, Mak Jeite Moce.
Ao 5Pontos
Claro, concordo com o ponto e só comento porque eu nunca deixaria que um professor me batesse. O Professor Taquelim ainda vivo, meu professor de desenho no colégio, um dia deu-me uma ponteirada, o ponteiro vou-lhe das mãos e eu fui expulso do colégio. Mas isso são feitios e o Abreu nunca foi meu professor se tivesse sido, tinha-se arrependido amargamente de me ter tocado.
Ponto!!!!
Epá que o gajo é mau !!!
EU VI o Abreu levantar do chão o Gabriel Mesquita (seu aluno, de 8 anos) pelas orelhas e depois bater-lhe repetidas vezes com a cabeça no quadro.
E continuava mesmo quando o sangue jorrava, pelas orelhas rasgadas, pelo nariz e pelos golpes na testa e o chão já estava cheio de sangue.
Acabou com um pontapé nas costas, para fora da sala de aulas.
Como de costume, valeu ao Gabriel e a outros, a Menina Victória, que - às escondidas - o lavou e ajudou como foi possível.
Repito: EU VI.
Era aluno dessa 2ª classe, na escola do Bairro Operário.
E porque EU VI outras e muitas mais situações idênticas e quase diárias, durante todo esse ano escolar,
limito-me ao silêncio quando ouço falar desse animal sádico e sanguinário como " Professor e Pedagogo".
G'AND'ANIMAL.
Não falemos mais desse f.p.
sugiro que vão ver o blog three4five.Pertence a um conterraneo nosso a viver na Finlandia.O BLOG está um espectaculo.
ET
Very cool design! Useful information. Go on! » »
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