LAGOS ONTEM

Rua da Barroca
Sentir o acre sabor do sal que ainda pronunciam
estas antigas casas, o ar húmido envolvente do rio,
a pura melodia duns lábios, a serenidade antiga.

Estar de novo aqui, vagueando por estas ruelas
donde era possível ouvir as evocações do vento,
no seu ofício de relembrar a tentação dum barco.

Comungar da respiração dum remo cadenciado
que mergulha no mar gerando essa festa mágica,
o prémio para um pescador, o tributo das águas.

E, por fim, evocar esta exígua vertiginosa fronteira
da luminosidade cendrada, violenta do inverno,
numa gaivota distraída, juvenil, às portas da cidade.
“José Vieira Calado – in Lagos Ontem”

Que pena, que o Presidente não revele na sua acção a sensibilidade do olhar e do coração do poeta.
Que lástima, que o ex-Presidente não tenha percebido a mensagem deste livro de poesia que a Câmara patrocinou.
Que tristeza, que o Povo que elege o Presidente insista em não ler, em não reflectir, em não agir.
Que amargura, que o Poeta não venha a ser eleito Presidente...

[Amanhã, para encerramento do nosso contributo para a discussão do fundamentalismo ambiental enquanto antídoto para o fundamentalismo betonal, teremos aqui as previsões exclusivas da Bruxa da Falfeira, D. Matilde.]